sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Leviandade ou alter ego ou Depois de ler A Paixão Segundo G.H.

          Dentro de mim há uma angustia que mata-me aos poucos, a covardia me separou, assassinou palavras, eu assassinei palavras...a covardia esqueceu-me do que deveria nascer, do bruto que é lixo, resíduo, eu sou um lixo! E a preguiça me deixa pequeno, impotente sou. Existe incertezas nesses vários eus, quem eu serei? Em qual dos polos encontrarei meu Apolo? Em muitos anos tentei me achar, mas me perdi, me perco no mar, sou coisa miúda no universo, sem lar.
           De repente o nada é tudo e me completa, é minha paixão, um corpo avantajado, um orifício pequeno, leve no toque e com o peito aberto pelo selo. Os poros excitados em apenas um beijo, o vazio beija e produz o ato da solidão. A solidão é meu pai, é minha mãe, é meu namorado, é minha namorada, irmão, irmã, o sangue, mas não é todo mundo, não é o carinha da esquina, não é peguete esquecida. A solidão é meu Deus, o divino não existe, é meu verdadeiro amor, um completo vazio que é tudo e nada, ing e yang, meu equilíbrio de sempre porque desarmado estou.
      - Eu sou G.H, quem tu és? Eu sou G.H. Antes eu era Gregor Samsa, hoje eu sou G.H.  Mas G.H. é corajosa, comeu a si própria, não si jogou fora, não correu, engoliu o próprio nojo, comeu barata. Eu que barata sou, serei esmagado pela minha própria massa branca se não me dispor para deixar fluir, se não me deixar ser, ser invocado, ser esquecido, para o quebranto da alma.
         Dizem que falar de seu intimo é fracasso, falar de si próprio é fraqueza - achas isso? pois aqui reconheço meu fracasso e minha fraqueza, sou fraco porque deixo as palavras entrarem pelas minhas narinas; sou fraco porque consagro a completude do esvaziamento. Prefiro isso do que ser enganado até depois da morte em vãs esperanças. Eu sou Temerário, procuro a largueza e alargo-me no vazio. Isto não é depressão, é compreensão de mim.
        - Aos completos, eu digo: Caramba, você cedeu bastante, foi quem não é para passar a mão nas pernas da bondade, e a bondade? ela existe? e a maldade? ah, estamos todos juntos, separados em visões que nos colocam em jaulas: política, religião, formação, Seu Nada e Seu Ninguém, ninguém se conhece, ninguém se sabe.
     - E assim viverei, deixarei minha humanidade engolir a covardia para substituí-la, para sê-la completamente em mim, humanidade mal dita, que não dita os passos dos caminhos tortuosos. Vejo a incompletude completando-se todo dia para a morte do medo. Então agora tenho leveza para voar sem penas aos altos coqueiros, sem deixar o temor me cair, pois alegre ficarei, pois assim serei -----

- Apolo Júnior em gratidão a indomável Clarice Lispector.


8 comentários:

  1. Beleza de texto. Parabéns Apolo Junior 👏👏👏👏

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  2. Texto que revela a procura do eu e suas multifacetas. Muito bom Apolo Júnior!

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    1. É exatamente o que Clarice faz em A paixão Segundo G.H. Te recomendo muito ;)

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  3. Texto que revela a procura do eu e suas multifacetas. Muito bom Apolo Júnior!

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  4. Texto que revela a procura do eu e suas multifacetas. Muito bom Apolo Júnior!

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  5. Belo texto. São pessoas como você que me faz sempre acreditar em um mundo melhor.

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