sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Conto: Calor do Caminho Agreste

                      (Primeira Versão)

 Ao cedo acordar, Daniel notou os primeiros filetes de sol... quentes! As portas, o ar, os objetos caseiros, o barro; Todos encorpados, claros, assassinado as sobras de toda casa. E então vem o assobio dos pássaros...

- Daniel, vá comprar galinha, Bora!

Palavras avexadas e roucas, esta era sua avó. Desceu da cama, e não ouvia os próprios passos, pediu a benção, bebeu da água, vestiu qualquer coisa e meteu os pés para caminhar.

Ruas. As ruas de pedras descascadas, pisadas dos pés daquelas pessoas destroçadas com calcário. O Arrastar de chinelas, a indigência torpe do sertanejo, folhas secas, cantos dos pássaros, cachorros e galos: Isto é vida naquele ambiente pálido! É com essa maneia de enxergar que Daniel passeava por aquelas ruas, estava diferente, pensou nas propostas de seus primos. Migrar para fora destas coisas miúdas... cidade grande! Paraíso, trabalho, dinheiro, longe, sem família, sem paz, e... Eita, a galinha !!!

O sino da igreja toca para a missa das 7 horas, nossa senhora, santa Teresinha, e uma galinha pra almoçar. Na rua, as meninas paqueram, mas Daniel não tem tempo de um acocho pois sua avó sofre dos nervos, tudo teria que ser logo. Chama a Kátia e a Marcinha, dá um abraço nas meninas, fala que precisa ir ao frigorífico do Seu Enoque, se não vai fechar.

- Mais tarde vou com os moleques pra quadra, vejo vocês lá

- Tudo bem Danielzinho , até já

As duas respondem, rindo e rindo sem parar. Na outra esquina, outras meninas, e em casa sua avó já pensava  10h30! Pisando em ovos esse menino está.

Quente, o sol bate sua lapada em todas as formas daquele lugar, e de tanto bater racha todas as gentes. O centro é longe. Vira numa rua, dobra na outra, sobe um morrinho. Daniel só pensava em logo chegar para jogar bola com os moleques, e depois de breves conversas, queria as meninas, esta volúpia de beijar, mas ainda estava estranho... é longo o caminho.

Tinha 16 anos, responsabilidade, homem quase feito, pensava em algum defeito de viver neste lugar. Seus primos, todos altos, vamos pra cidade grande ficar. Seu avô, homem da roça, terrinha, aqui é meu lugar. confuso, confuso, notava tudo, neblinas claras e quentes, e continuava à caminhar.

O dia estava tão quente, como sempre, mas desta vez o Sol com sua quentura cegava a visão de Daniel e o forçava à pensar, ele não era disso, mas além de cabelos queimados, a cuca queima , e com ar seco respira. Em si precisava pensar. Seus devaneios apontam para o nada, não existe bússola para determinar para si o caminho pra seguir, todos desejam destinos, mas o incerto é um norte. Norte ao Este

Surge a praça da cidade e um povo debaixo das árvores, com seus jogadores de xadrez, vendedores de fruta, e agora os ratos . Época de eleição, políticos forçosamente passando a mão lavada no rachado povo para pedir voto. Simpáticos eram todos aqueles sorrisos, falso eram todos aqueles pedidos já  realizados , e tudo isso acalentava as pessoas que se arrastavam em seus bois e cacetes para ouvir o clamor de uma nova e lisa pista. Daniel passou sem dar atenção para esta repetição, contudo aqueles gritos de EU VOU martelavam sua cabeça, e notou que ser auxiliar de pedreiro era tarefa de formiguinha no calcanhar dos ricos deuses. E mais um pouco andou...

Finalmente entrou naquela vermelha vendinha de geladeiras e brasas com os corpos despedaçados de suculentos animais. Possua-me, oh cheiro de carne.

- Opah, Seu Antônio me dê uma galinha

- Um galeto rapaz! E comadre Mariquinha, está bem?

- Meio azuada, mas está bem. Tomando remédios, os médicos dizem que é depressão

- Eita, essa tal depressão tá pegando todo mundo, nome bonito pra problema nos nervos, Eu digo a comadre pra sair mais pros sítios, ver o sol...

- Nem se ela quisesse, está com as pernas travadas, reumatismo, agora vive com a barriga no fogo.

- Ei tu Visse a lapada que o teu Sport ganhou ontem?  hahaha

- Roubado, Juiz safado, o Corinthians sempre é ajudado ! Os times do nordeste não tem vez irmão.

- Que nada de time de nordeste, eu vou com o melhor hahaha

Não adiantava argumentar. Seu Antônio pega a Ave já preparada, recentemente morta, e entrega ao rapaz.

- 15 conto

- tá caro

- 12 pra você, agora vai logo, tua vó já deve tá braba. A baixada é longe e já é quase 11h00. Dá uma carreira... anda seu chorão, manda lembrança pra comadre!

Daniel se despede correndo, correndo, pois passou muito tempo pensando e devagar andando, as vezes é ruim pensar muito. Tinha que decidir. Olha a hora!!! Ouvia o estalar das chinelas no duro chão de pedras cobertas por poeira. Os estalos eram como os ponteiros que giram em torno, de ponto a ponto. É o tempo que vai com a vida que se repete.

Moreno e pequeno, Daniel pulava, segurando com as duas mãos o corpo animal que ele e sua família sedenta de fome dariam dentadas, a galinha, e única coisa forte que tinham, o morder, porque os dentem já caíram. As vacas morreram na seca, o leite faltava além da água. Daniel ainda pulava, sensação de que anda mais não sai do lugar. Vira numa rua, dobra na outra, pula um morrinho... Imaginava-se preso como o resto da população por entre as rachaduras que a terra abrira, mas logo pela aquela que ele havia passado havia uma folha verde, pequena, quase do tamanho de um musgo. Será que ainda dá tempo de estudar e sair disso? Cidade grande não fará sentido sem estudo. Luz forte, muita sede, calor intenso e os pés fortes.

O cheiro das casa de farinha onde trabalha, está perto de casa, precisa de um valioso copo d’água e acalmar de vez a agonia de sua avó. Chega abre as portas, coloca a galinha no tábua em cima da pia pra despelar. Sua avó de rosto feroz, xinga com voz ainda mais rouca, e tece perguntas. Então Daniel entende que é mais um dia, onde palavras áridas voam e as pedras da incerteza rolam sem destino, tornando-se poeira, a poeira que entra na casa e na vida daquelas pessoas, daqueles sertanejos, gente iluminada pela luz viva, cortante, o calor que divide as estradas e reflete nas profundezas com este algo lá fora, o Sol.

 



 

6 comentários:

  1. Muito bom, Aplo Junior. Siga em frente, você leva muito, é inspirado e criativo 👏👏

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    1. Muito Obrigado pelos belos comentários de sempre, és uma grande amiga! espero que tenha gostado ^^

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  2. Gostei muito do seu conto! Você tem um jeito diferente e especial de tratar a narrativa que eu ainda não conhecia, foi quase como ler um poema narrado, gostei da história e da dúvida do pobre rapaz. Os personagens são interessantes e muito bem colocados na história. Pude sentir a personalidade de cada um deles e imaginar a vida deles no sertão.

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    1. Otavio, obrigado pela presença! grato pelo comentário, estou ai, tentando traduzir em ficção essas inquietudes. Estamos nessa... um grande abraço

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  3. Muito bom o conto, muita clareza e representando muito bem o lugar. Fiquei aqui com um gostinho de quero mais. Hahaha

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    1. Muito Obrigado gatinha, pode deixar que falei mais contos ;)

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