Ao cedo acordar, Daniel notou os primeiros filetes de
sol... quentes! As portas, o ar, os objetos caseiros, o barro; Todos
encorpados, claros, assassinado as sobras de toda casa. E então vem o assobio
dos pássaros...
-
Daniel, vá comprar galinha, Bora!
Palavras
avexadas e roucas, esta era sua avó. Desceu da cama, e não ouvia os próprios
passos, pediu a benção, bebeu da água, vestiu qualquer coisa e meteu os pés
para caminhar.
Ruas.
As ruas de pedras descascadas, pisadas dos pés daquelas pessoas destroçadas com
calcário. O Arrastar de chinelas, a indigência torpe do sertanejo, folhas
secas, cantos dos pássaros, cachorros e galos: Isto é vida naquele ambiente
pálido! É com essa maneia de enxergar que Daniel passeava por aquelas ruas,
estava diferente, pensou nas propostas de seus primos. Migrar para fora destas
coisas miúdas... cidade grande! Paraíso,
trabalho, dinheiro, longe, sem família, sem paz, e... Eita, a galinha !!!
O
sino da igreja toca para a missa das 7 horas, nossa senhora, santa Teresinha, e
uma galinha pra almoçar. Na rua, as meninas paqueram, mas Daniel não tem tempo
de um acocho pois sua avó sofre dos nervos, tudo teria que ser logo. Chama a Kátia
e a Marcinha, dá um abraço nas meninas, fala que precisa ir ao frigorífico do
Seu Enoque, se não vai fechar.
-
Mais tarde vou com os moleques pra quadra, vejo vocês lá
-
Tudo bem Danielzinho , até já
As
duas respondem, rindo e rindo sem parar. Na outra esquina, outras meninas, e em
casa sua avó já pensava 10h30! Pisando em ovos esse menino está.
Quente,
o sol bate sua lapada em todas as formas daquele lugar, e de tanto bater racha
todas as gentes. O centro é longe. Vira numa rua, dobra na outra, sobe um
morrinho. Daniel só pensava em logo chegar para jogar bola com os moleques, e
depois de breves conversas, queria as meninas, esta volúpia de beijar, mas
ainda estava estranho... é longo o caminho.
Tinha
16 anos, responsabilidade, homem quase feito, pensava em algum defeito de viver
neste lugar. Seus primos, todos altos, vamos
pra cidade grande ficar. Seu avô, homem da roça, terrinha, aqui é meu lugar. confuso, confuso, notava tudo, neblinas
claras e quentes, e continuava à caminhar.
O
dia estava tão quente, como sempre, mas desta vez o Sol com sua quentura cegava
a visão de Daniel e o forçava à pensar, ele não era disso, mas além de cabelos
queimados, a cuca queima , e com ar seco respira. Em si precisava pensar. Seus
devaneios apontam para o nada, não existe bússola para determinar para si o
caminho pra seguir, todos desejam destinos, mas o incerto é um norte. Norte ao
Este
Surge
a praça da cidade e um povo debaixo das árvores, com seus jogadores de xadrez,
vendedores de fruta, e agora os ratos . Época de eleição, políticos
forçosamente passando a mão lavada no rachado povo para pedir voto. Simpáticos
eram todos aqueles sorrisos, falso eram todos aqueles pedidos já realizados , e tudo isso acalentava as
pessoas que se arrastavam em seus bois e cacetes para ouvir o clamor de uma
nova e lisa pista. Daniel passou sem dar atenção para esta repetição, contudo
aqueles gritos de EU VOU martelavam
sua cabeça, e notou que ser auxiliar de pedreiro era tarefa de formiguinha no
calcanhar dos ricos deuses. E mais um pouco andou...
Finalmente
entrou naquela vermelha vendinha de geladeiras e brasas com os corpos
despedaçados de suculentos animais. Possua-me,
oh cheiro de carne.
-
Opah, Seu Antônio me dê uma galinha
-
Um galeto rapaz! E comadre Mariquinha, está bem?
-
Meio azuada, mas está bem. Tomando remédios, os médicos dizem que é depressão
-
Eita, essa tal depressão tá pegando todo mundo, nome bonito pra problema nos
nervos, Eu digo a comadre pra sair mais pros sítios, ver o sol...
-
Nem se ela quisesse, está com as pernas travadas, reumatismo, agora vive com a
barriga no fogo.
-
Ei tu Visse a lapada que o teu Sport
ganhou ontem? hahaha
-
Roubado, Juiz safado, o Corinthians
sempre é ajudado ! Os times do nordeste não tem vez irmão.
-
Que nada de time de nordeste, eu vou com o melhor hahaha
Não
adiantava argumentar. Seu Antônio pega a Ave já preparada, recentemente morta,
e entrega ao rapaz.
-
15 conto
-
tá caro
-
12 pra você, agora vai logo, tua vó já deve tá braba. A baixada é longe e já é
quase 11h00. Dá uma carreira... anda seu chorão, manda lembrança pra comadre!
Daniel
se despede correndo, correndo, pois passou muito tempo pensando e devagar
andando, as vezes é ruim pensar muito.
Tinha que decidir. Olha a hora!!! Ouvia
o estalar das chinelas no duro chão de pedras cobertas por poeira. Os estalos
eram como os ponteiros que giram em torno, de ponto a ponto. É o tempo que vai com a vida que se repete.
Moreno
e pequeno, Daniel pulava, segurando com as duas mãos o corpo animal que ele e sua
família sedenta de fome dariam dentadas, a galinha, e única coisa forte que
tinham, o morder, porque os dentem já caíram. As vacas morreram na seca, o
leite faltava além da água. Daniel ainda pulava, sensação de que anda mais não
sai do lugar. Vira numa rua, dobra na outra, pula um morrinho... Imaginava-se
preso como o resto da população por entre as rachaduras que a terra abrira, mas
logo pela aquela que ele havia passado havia uma folha verde, pequena, quase do
tamanho de um musgo. Será que ainda dá
tempo de estudar e sair disso? Cidade grande não fará sentido sem estudo.
Luz forte, muita sede, calor intenso e os pés fortes.
O
cheiro das casa de farinha onde trabalha, está perto de casa, precisa de um
valioso copo d’água e acalmar de vez a agonia de sua avó. Chega abre as portas,
coloca a galinha no tábua em cima da pia pra despelar. Sua avó de rosto feroz,
xinga com voz ainda mais rouca, e tece perguntas. Então Daniel entende que é
mais um dia, onde palavras áridas voam e as pedras da incerteza rolam sem
destino, tornando-se poeira, a poeira que entra na casa e na vida daquelas
pessoas, daqueles sertanejos, gente iluminada pela luz viva, cortante, o calor
que divide as estradas e reflete nas profundezas com este algo lá fora, o Sol.
Muito bom, Aplo Junior. Siga em frente, você leva muito, é inspirado e criativo 👏👏
ResponderExcluirMuito Obrigado pelos belos comentários de sempre, és uma grande amiga! espero que tenha gostado ^^
ExcluirGostei muito do seu conto! Você tem um jeito diferente e especial de tratar a narrativa que eu ainda não conhecia, foi quase como ler um poema narrado, gostei da história e da dúvida do pobre rapaz. Os personagens são interessantes e muito bem colocados na história. Pude sentir a personalidade de cada um deles e imaginar a vida deles no sertão.
ResponderExcluirOtavio, obrigado pela presença! grato pelo comentário, estou ai, tentando traduzir em ficção essas inquietudes. Estamos nessa... um grande abraço
ExcluirMuito bom o conto, muita clareza e representando muito bem o lugar. Fiquei aqui com um gostinho de quero mais. Hahaha
ResponderExcluirMuito Obrigado gatinha, pode deixar que falei mais contos ;)
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